Segue-se um artigo interessante do Jornalista Gustavo Mavie, da Agência de Informação de Moçambique (AIM), onde retrata a opinião do economista Jeffrey Sachs sobre a crise alimentar mundial.
------------------------------------------------------------------------------------------------MOCAMBIQUE DEVE ADOPTR A ESTRATEGIA MALAWIANA PARA ESTANCAR O CRESCENTE CUSTO DOS CEREIAIS NO MUNDO
Por Gustavo Mavie, da AIM, em Sao Paulo Sao Paulo,
06 Mai (AIM) - O Malawi é, por incrivel que pareca, de acordo com o conceituado economista norte-americano Jeffrey Sachs, o único país da SADC e do resto do mundo que está a escapar ao impacto negativo da crescente subida dos precos dos cereais no Mundo, porque o seu Governo criou um fundo de apoio aos seus camponeses e farmeiros, a tal ponto que em apenas um ano duplicaram as suas colheitas.
Num estudo que fez, cujas conclusoes o inspiraram a escrever um artigo que publicou na edicao da revista semanal 'Times' que saiu à rua no dia 5 de Maio, Sachs mostra-se tao surpreendido com os resultados que aconselha os governos de todo o mundo a replicarem esta estratégia adoptada pelo executivo malawino, criando-se um fundo mundial, tal como os que se criaram para fazer face a outros problemas mundiais, para apoiar os produtores de cereais de paises potencialmente agricoas como Mocambique, que detem mais de 39 milhoes de de hectares araveis, mas que so aproveita apenas cerca de cinco milhoes.
Sachs destaca que o que faz com que os produtores malawianos tenham sido capazes de duplicar em apenas um ano a sua producao é que, com o financiamento que tem tido do fundo criado pelo seu governo, eles ja conseguem importar sementes melhoradas e outros insumos que antes precisavam sem as poder ter para melhorar a sua producao e produtividade.
Diz que com o fundo, eles agora conseguem comprar equipamento agrícola, como alfaias, e de irrigacao, para alem de fertilizantes que ja podem importar.
Sachs vinca que neste momento o Malawi é mais do que auto-sucficiente em alimentos básicos, e que, por isso mesmo, o resto do mundo devia replicar esta iniciativa do seu governo, principalmente daqueles paises em vias de desenvolvimento como este pequeno pais que tambem tem grandes extensoes de terras potencialmente agrícolas, como é o caso ja referido de Mozambique que, por falta de meios financieros, os seus camponeses nao podem tirar maximo proveito do que as suas machambas podem dar-lhes.
Nesse seu artigo, intitulado 'Act Now, Eat Later' (Age agora e Coma Depois), o economista deixa claro que a dimensao e o impacto negativo que esta crise de cereais basicos está a ter requer que seja encarada com a mesma seriedade e urgencia com que se se estao encarando ou lidando com outros males de escala planetaria, como certas doencas e epidemias, tais como a malaria, tuberculose e SIDA que, como se sabe, acabaram levando os governos de todo o mundo a criarem fundos espciais para o seu combate.
Vinca que a menos que se crie urgentemente um fundo para reactivar a producao da comida ou, ja agora, dos cereais cuja producao está agora a níveis nunca antes vistos nos ultimos decenios, e que por isso estao a ser vendidos aos consumidores a preco de ouro, de nada valerá evitar que as pessoas morram destas doencas ou epidemias, para depois deixá-las padecer lenta mas trágicamente da fome.
SACHS E AS TRES CAUAS QUE ESTAO POR DETRÁS DO DECLINIO DA PRODUCAO ALIMENTAR NO MUNDO
No seu artigo bastante critico aos governos por terem ignorado durante anos os avisos que os peritos vinham fazendo de que o mundo se estava a negligenciar a producao da comida e que isso iria ter como consequencia a sua falta um dia como esta agora a acontecer, Sachs identifica tres causas como sendo as mais responsaveis por esta crise que nao so podera matar milhoes de pessoas, como ja esta a causar uma grande instabilidade politica, que tem o seu expoente maximo numa serie de levantamentos populares contra esta carestía da vida, que tem se registado a cada dia que passa em varios paises, especialmente nos de pouca renda.
Ainda hoje registaram-se mais motins em varios paises africanos, nomeadamente o que podera reultar num retrocesso dos avancos democraticos que se tem registado desde os anos 90 do seculo passado.
Uma das causas que ele aponta como co-responsavel deste declinio na producao da comida para alimentar os mais de seis bilioes que habitam o Planeta agora é uma cronica baixa da produtividade das farmas que, segundo ele, deriva do facto de que os farmeiros nao tem tido dinheiro suficiente para comprar as sementes melhoradas, bem como fertilizantes e sistemas de irrigacao para que possam ter boas colheitas em cada epoca agricola.
Ele sustenta que o fundo global, que ele propoe seja criado com a maxima urgencia, iria permitir que os milhoes de camponeses recorressem a ele para poderem comprar tais sementes melhoradas e esses fertilizantes e sistemas modernos de irrigacao como esta a acontecer com os do Malawi, para que nao dependam apenas das chuvas que agora sao cada vez mais escassas, devido ao fenonemo do aquecimento global que afecta o mundo.
A segunda causa que Sachs aponta como estando na base da crecente baixa da producao e produtividade de comida no mundo se deve exactamente a essa elevacao das temperaturas, porque tem causado secas ciclicas ate em zonas do globo ou paises onde este fenonemo era totalmente desconhecido pelos seus habitantes.
Diz que a seca hoje é um problema tao presente no continente europeu onde nunca podia se esperar, como o é na Australia que ao longo de seculos era o maior produtor de um dos tres cereiais cuja producao baixou bastante agora, que é o trigo, que tem se reflectido num crescente custo do preco de alguns dos produtos que dele se produzem, como o pao que durante seculos era tido como o alimento dos pobres, mas que agora esta se tornando no dos ricos.
Outro dos produtos que é feito a partir do trigo é a pisa que, como se sabe, é um dos pratos fortes nao so dos italianos como do resto do mundo, mas que tambem esta sendo vendido agora a um preco de ouro na Italia como em varios outros paises, tal como o esta sendo neste momento o arroz mais produzido na Asia e o milho que tem escasseado porque ja é mais destinado a producao do etanol.
A terceira causa que este economista, autor de varias obras de referencia obrigatoria para quem quer entender correctamente a dinamica economica mundial, é a crescente tendencia dos governos ocidentais de recorrerem a alguns cereais, mormente o milho, para produzir o tal etanol, alegando que é um combustível limpo, que evita o agravamento da ja precaria degradacao do meio ambiente. Sachs diz ser um grave erro pegar no milho que devia estar nas mesas de milhoes que agora passam fome e deita-lo em tanques de combustivel para 'alimentar' carros.
Adverte que os governos ocidentais devem por termo imediado à sua politica de subsidiar a conversao do milho em biodiesel, apontando os EUA como o pior país neste caso ao dispender 51 centimos do dólar de cada um dos seus contibuintes para subsidiar este projecto de producao de biodiesel a partir de graos de milho ou de outros cereais que agora fazem uma grande falta à populacao mundial.
Ele diz nao haver razao para se recorrer aos cereais para a producao destes combustiveis, porque ha muitas terras nao proprias para a agricultura, que tem arvores com maior potencial para a producao de biodiesel, como as palmeiras que produzem certas sementes de que se pode extrair esses carborantes que agora se obtem do milho e outros produtos que sempre alimentaram o homem e nao os motores.
Jeffrey Sachs lanca um alerta vérmelho nao so no dominio da producao alimentar, como sobre outras areas que igualmente tem estado a piorar o fardo em que ja milhoes de pessoas vivem, especialmente nos chamados paises em vias de desenvolvimento. Ele diz ser imperioso que os governos adoptem medidas urgentes para resolver outros problemas tao graves como da falta de energia, agua e outros recursos tao vitais mas que se estao tambem e tornar escassos como os cereais, fazendo a mesma proposta de que ha que se criar fundos especificos para se resolver o problema. 'Podemos combater estes problemas a tempo de evitar o pior se agirmos rapidamente', diz, apontando a energia solar como uma das alternativas a que se deve recorrer para se resolver a crise energetica, ao mesmo tempo que encoraja o recurso das placas energeticas para se acopolar nos carros, para que na sua locomocao se use este dispositivo energetico em substituicao do cada vez mais oneroso gasoleo e gasolina.
3 comentários:
interessante o artigo basilio, mas esse fundo global nao vai resolver esta crise, os fundos sao um pesadelo, para sua gestao e estao a mando de paineis politicos bastantes ineficientes. o fundo da educacao, do sida e da malaria, mostra como a resposta tarda.
o fundo de iniciativas locais q foi dado aos distritos foi com tanta forca politica que esqueceu o essencial das coisas.
Matine
Acho que a tua aboprdagem tem a sua validade, mas nesta altura do campeonato o País precisa de soluções, e as lideranças, porque sabem que necessitam de uma "consultoria" a todos os níveis e mostram abertura para o efeito, é preciso que se apontem cenários para solucionar a crise.
Gostaria de saber na tua óptica qual é a receita para fazer face a esta "trubulencia" global em Moçambique.
basilio! nao sei se hoje existem solucoes infaliveis. mas como bem dizes no teu ultimo artigo, existem alguns atravimentos politicos ja feitos que podem dar frutos a longo prazo. mas nesta altura de desespero as estrategias tomadas sao influenciads por factores que fogem ao dominio das nossas elites politicas. tambem nao vamos exagerar, o nosso pais ainda nao produziu conhecimento suficiente para lancar-se em engenharias economicas e sociais com o nivel que as agendas de desenvolvimento exigem. parece-me tambem que o pais esta a escolher mal os adversarios directos, em termos comparativos, acho melhor trablhar com indicadores da regiao, a nivel da SADC, se em termos de economia agricola chegarmos aos 45 % da africa do sul, 60% do nivel de pessoal com cconhecimento tecnico do zimbabwe, a cobertura em ensino primario como o botswana, etc. apostar no vietname como modelo poder ser bom a nivel polico-ideologico mas pouco eficaz em termos de relevancia para desenvolvimento a curto prazo para mocambique, porque ignora o contexto economico e politico em que mocambique se enquadra hoje.
a unica maneira de fugir a estes riscos da economia global, seria melhor se apostassemos mais na regiao, sadc tem mercado com grande potencial energetico, agricola, e humano. por isso que eu digo que sustentar mugabe e atrasar o desenvolvimento nesta regiao, pegar o mugabe como o desafio politico da regiao, e esquecer que o maior desafio politico ainda esta por vir com os desafios de alternancia politica e busca de consenso sobre a estabilidade politica e modelo de governacao em angola, africa do sul e malawi. e muita coisa para ver e analisar, o importante sao a perguntas e nao as solucoes neste momento.
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