Blog sobre Moçambique

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Sobre a Crise economica nos EUA

O Doutor em Economia, o Prof. Ubiratan Ioro, escreve um dos melhores artigos sobre a actual crise norte americana. O Grande debate que hoje se coloca em algumas escolas de pensamento económico concentra-se em torno das teorias do intervencionismo público na economia.
Há quem considere que a intervenção americana só representa mais crises futuras, crises cada vez maiores e que não diminui risco sistêmico algum e tragicamente cumpre o destino de toda intervenção: traz resultados contrários ao que pretendia. Só torna o tal risco cada vez maior, devido à fragilidade que as instituições financeiras vão “ganhando” com políticas subótimas, políticas que, no fundo, são subsidiadas pelo governo, são avalizadas por ele.
Por outro lado, O Fundo Monetário Internacional (FMI) engrossou é uma das instituições que engrossam o coro dos que defendem uma intervenção mais abrangente do governo dos Estados Unidos para estabilizar o sistema financeiro americano, apesar dos custos gigantescos que uma iniciativa dessa natureza certamente teria.

Mas vamos ao trecho do Prof. Dr. Ubiratan Ioro:

“ A causa principal, a meu ver, do esquecimento a que foi relegada a Escola Austríaca foram suas recomendações para eliminar o que ficou conhecido como a Grande Depressão dos anos 30: os governos deveriam abster-se de intervir na economia, deixando funcionar o sistema de preços livremente e o mercado reavaliar os valores dos recursos! Sim, isto significaria falências de bancos e de muitas empresas, mas falências fazem parte do jogo, a não ser que os contribuintes sejam convocados compulsoriamente a sustá-las, como o governo americano, mais uma vez, pretende fazer neste momento. É o processo, inevitável, de ajustamento, em que os maus investimentos feitos no passado, baseados em expansão monetária travestida de pseudo-poupança, precisam ser eliminados. Mas isto é impopular hoje, como era impopular nos anos 30, o que levou Roosevelt a adotar as recomendações intervencionistas de Keynes, muito mais palatáveis sob o ponto de vista político.

Assim, firmou-se a idéia de que os governos deveriam controlar a demanda “agregada”, com base no “princípio da demanda efetiva” de Keynes e as corretas teses austríacas lançadas na gaveta do esquecimento, algo que nem a concessão, em 1974, do Nobel de Economia a Hayek conseguiu mudar. Desde os anos 30, praticamente todos os economistas são “keynesianos”, mesmo os monetaristas e os novos clássicos, que prezam a economia de mercado e nada têm de socialistas... Uma lástima, de conseqüências desastrosas não apenas para a academia, mas para a humanidade!

A história da crise de hoje não difere, em sua essência, daquela da Grande Depressão e foi plantada pelas políticas do Fed de manter as taxas de juros artificialmente baixas. Ora, juros baixos tornam viáveis projetos de longo prazo, cujos valores presentes são mais beneficiados do que os dos projetos de curto prazo. A construção civil, claramente, está no primeiro grupo. Assim, foi um negócio não natural, estimulado pelo governo americano. Mas, além dessa tentativa de aceleração forçada da prosperidade, as autoridades americanas imbuíram-se da idéia errada de que, se qualquer pessoa desejasse um empréstimo para comprar uma casa, o governo teria a obrigação de concedê-lo, mesmo que indiretamente, idéia que operacionalizou criando a Freddie Mac e a Fannie Mae, empresas com status jurídico cinzento, já que eram geridas privadamente e tinham capital aberto, mas sempre foram protegidas pelo Estado, com o intuito de subsidiar os empréstimos. E o mercado – que, nessas horas, não falha – antecipou corretamente que tais empresas seriam socorridas pelo Estado em caso de dificuldades. Com medidas desse tipo – taxas de juros abaixo da inflação corrente e subsídios camuflados a hipotecas – qualquer economista conhecedor da tradição “austríaca” poderia detectar, há anos, que surgiriam graves problemas futuros.

E o futuro chegou! Em meados de 2006, as empresas de construção civil sentiram os efeitos da alta da taxa de juros ocorrida e também prevista pela teoria, decorrente do cabo-de-guerra ou disputa pelo crédito, como previram, por exemplo, entre inúmeros outros, os seguintes artigos, todos encontrados em http://www.mises.org/ : Who Made the Fannie and Freddie Threat?, de Frank Shostak, de 5 de março de 2004; Freddie Mac: A Mercantilist Enterprise, de Paul Cleveland, de 14 de março de 2005; Fannie Mae: Another New Deal Monstrosity, de Karen De Coster, de 2 de julho de 2007 e How Fannie and Freddie Made Me a Grump Economist, de Christopher Westley, de 21 de julho de 2008.”

O artigo completo pode ser lido aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

O problema dos liberais, neo's ou ultr's é que se baseiam numa falácia "Os mercados são perfeitos", o que de facto não acontece, a desigualdede de conhecimento e poder seja entre vendedores e compradores, como dentro de cada um destes grupos, tornam o mercado assimétrico e logo imperfeito.
Quanto à actual crise, ela foi provocada precisamente pela ideia que os Estados se deve mabster de intervir, foi a falta de regulamentação, que transformou os mercados financeiros, onde hoje em dia "existe dinheiro" mais que suficiente para comprar e vender multiplas vezes, todos os bens materiais existentes no planeta, contrariando a velinha lei de Say "toda a oferta gera a sau própria procura", mais um liberal enganado e vivamente contrariado pela realidade.
O(s) Estado(s9 deve(m) de facto coibir-se de ter actividade económica, mas não pode nem deve retirar-se do seu papel de regulador.
E aqui independentemente da corrente ideológica e politica, ou da orientação económica, o importante é que aqueles que num dado momento, representem o bem público, ou seja que sejam os agentes pessoais e fisicos do Estado, sejam isentos, não favorecendo interesses, de forma descarada ou oculta, ao árbitro deveria ser interdito poder jogar por qualquer das equipas, se não pela lei, pelo menos pela sua consciência.