JJM
Blog do jovem economista e politico Basílio Muhate - o canto onde o país real, as teorias e as políticas economicas se cruzam. Rabiscando a Economia de Moçambique.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Banca de Xipamanine pode gerar carros de luxo e mansões ! (?)
JJM
terça-feira, 24 de março de 2009
Sobre a Crise Financeira Internacional (Primeira-Ministra Luísa Diogo na AMECON)
Uma economia como a Moçambicana, que depende em mais de 50% do financiamento externo dificilmente poderá ficar alheia à oscilações macroeconómicas no resto do mundo, ou à variações profundas nas taxas de juro ou de câmbio nos mercados dominantes da região (eg. África do Sul) e do Mundo (eg. EUA). A médio e longo prazo os efeitos fazem-se sentir.
Segundo a Primeira-Ministra, há uma prespectiva de crescimento económico em Moçambique entre os 5% e 6% no presente ano, segundo as projecções do Banco de Moçambique e, caso isso não aconteça haverá uma necessidade de reajustamento da economia.
terça-feira, 17 de março de 2009
Dicas Sobre como fazer face à crise Financeira Internacional
Crise Financeira – Algumas dicas sobre como fazer face.
Estive a tentar buscar algumas ideias sobre como colaborar com os pequenos empresários e empreendedores Moçambicanos a fazerem face a crise financeira internacional. Como é que se pode reduzir os riscos económicos em fases de crise ? Uma boa alternativa seria buscar serviços de consultoria financeira junto de instituições ou pessoas especialistas para o efeito, Por outro lado pode imprimir esta página, sentar-se a secretária ou a Beira-Mar e começar a preparar-se
A Falência das pessoas não se deve às dividas totais que possuem, mas sim ao facto de esquecerem-se dos pagamentos que devem às instituições financeiras que, após algum tempo, tomam medidas contra os empresários tais como o encerramento dos seus negócios.
O Dinheiro “confortável”, a que também chamam de fundos de emergência, deve ser guardado preferencialmente em contas de poupança capitalizadas, ou seja, que rendam juros. Não misture o seu fundo de emergência com as suas contas ancárias regulares pois poderá ser tentado a investir e gastar o dinheiro em outros fins. A Razão é que o propósito deste dinheiro não é crescer nem fazé-lo rico. É apenas para fazer face as suas contas correntes quando você está “apertado”. É o último recurso.
2. Manter seguros de saúde, de vida, de deficiência, e outros seguros
Se for um indivíduo extremamente rico, com acções e títulos inesgotáveis, várias empresas, etc, o seu recurso mais importante seja a sua capacidade de trabalhar. Esta é uma ,razão que leva a que em muitos países o seguro de invalidez seja vital para os cidadãos.
Mesmo que não haja nenhuma pressão financeira sobre a pessoa, se esta acredita que há alguma probabilidade de ela ser afectada directamente pela recessão económica, então ela deverá começar a cortar alguns gastos desnecessários e procurar melhorar a liquidez. Alguem perguntaria, o que são gastos desnecessários ? Bom a intenção não é definir este conceito mas sim apontar que será preciso reduzir algumas despesas fixas mensais tais como a redução do número de revistas e jornais comprados semanalmente nas bancas, a redução daquelas compras cujo corte não afecta o nosso padrão normal de vida.
Se usa cartão de crédito, pense seriamente em parar de usá-lo. A utilização do cartão de crédito está sujeito a taxas de juro e o indivíduo pode não estar em condições de suportar os juros cobrados pela utilização do credito.
4. Expanda suas fontes de receita
5. Use a oportunidade de comprar ativos de baixos preços
As crises e recessões em geral constituem uma boa oportunidade de compra de activos a preços baixos. Por exemplo empresas com equipas talentosas de gestão e com qualidade, com fortes demonstrações financeiras, uma boa rentabilidade sobre os capitais próprios e oportunidades de crescimento no futuro são estratégicas em momentos de crise.
sexta-feira, 6 de março de 2009
YOUNG ECONOMIST OF THE YEAR 2009 - JOVEM ECONOMISTA DO ANO 2009
PARA MAIS DETALHES VISITE ESTE WEBSITE
TEMA: SERÃO AS RECESSÕES ECONÓMICAS INEVITÁVEIS ?
segunda-feira, 2 de março de 2009
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL (do debate à acção)
Cá entre nós continuamos de palestra em palestra, de seminário em seminário, de debate em debate, nos vários discursos de políticos e empresários a pregar a doutrina da crise económica mundial e suas consequências. Até que não é mau!! Os actores financeiros dos mega-projectos em Moçambique tais como a MOZAL, Areias Pesadas de Chibuto e Moma, etc, já começaram a dar avisos à navegação, e afirmam que poderão, com a crise, deitar abaixo vários postos de trabalho.
Em debate na TVM, Magid Osman Economista Moçambicano, procurou moderar o medo que muitas correntes tentam criar no seio dos Moçambicanos em relação à crise. Efectivamente o que está a faltar são acções de política fiscal e orçamental que nos conduzam a um equilibrio face à crise. É importante que o Governo Moçambicano tome medidas económicas de precaução dos efeitos da crise imeadiatamente.
A título de exemplo, medida em que as pessoas vão perdendo emprego, o salários vão baixando e a renda também, e isto levará a uma redução da capacidade de pagamento. Assim, aqueles que estiverem em divida com as instituições financeiras terão menor capacidade de cobertura da dívida. Sabe-se que o crédito mal parado em Moçambique é preocupante para vários Bancos, mas atenção que não falta muito para os Bancos atingirem o limite da tolerância com a actual crise.
Como a maior parte do financiamento é dirigido a Bens duráveis tais como habitação, construções, edifícios, automóveis, etc, os Bancos não terão outra hipótese senão a recuperação desses bens. Nos contratos de financiamento esse instrumento é claro para o caso de não cumprimento. Na América e Europa, com a crise, os Bancos estão a recuperar os bens e só no Brasil possuem cerca de 100 mil automóveis, um número em crescimento.
Este exemplo era apenas para ilustrar um dos efeitos que a crise pode trazer para os indivíduos, mas o mais importante é que ao invês de se estar constantemente a debater sobre a crise e suas consequencias e a criar correntes de pensamento contraditórias deveria estar-se já a desenvolver acções de curto, médio e longo prazo para fazer face a crise. Aqui o Governo, como regulador da actividade económica tem um papel importantíssimo, mas o sector privado nacional também deve ser mais proactivo.
Basilio
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Dia dos Namorados vs. Renda disponivel
Nao fiz nenhum estudo nem pesquisa para o efeito, apenas baseio-me na observacao dos factos ao meu redor. O primeiro dado e que quando se aproxima a data aumenta a procura dos bens que vamos chamar de "BENS DOS NAMORADOS". Um aumento da procura mantendo os precos constantes vai ocasionar uma escassez de bens e leva ao surgimento de filas de espera nas floristas principalmente. Como os namorados sao pouco sensiveis as mudancas no preco por estes dias (elasticidade-preco), o mercado pode aumentar a oferta e/ou simplesmente aumentar os pre;os daqueles bens.
Por outro lado os consumidores (namorados/as) tem a dificil missao de fazer poupancas suficientes de modo a chegarem ao dia de Sao Valentim ainda com algumas poupancas para o efeito, menos de 2 meses depois das despesas avultadas do final de ano e natal. O mercado por vezes tona-se ingrato para a renda disponivel (RD) do jovem Mocambicano. RD=Rendimento - Consumo. A maioria dos jovens Mocambicanos auferem um salario abaixo dos 250 USD/mes e apartir dai podem-se fazer todas as projeccoes possiveis do planeta terra e do MERCADO DOS BENS DOS NAMORADOS.
Agora fica a questao, o mercado tem solucoes a vista porque pretende faturar, mexe com os precos e quantidades mas os consumidores tem que optar dentro da sua fronteira de possibilidades de consumo. Alguem pode dar-me alguma formula para um 14 de Fevereiro rentavel e viavel para um jovem que pretende encher a sua namorada de presentes? Um amigo respondeu-me da seguinte maneira : PARA UM DIA 14 DE FEVEREIRO RENTAVEL DESFACA-SE DO MATERIALISMO E DO APROVEITAMENTO ECONOMICO DA DATA. EEQUECA O MERCADO E VIVA O AMOR NATURAL.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
AMECON: Economistas Moçambicanos entre a coragem e a incerteza ?
O AVISO nº 02/CE/2008 da Comissão Eleitoral da Associação Moçambicana de Economistas (AMECON) publicado no jornal notícias de 21/01/2009 praticamente exorta os Economistas Moçambicanos a assumirem de uma vez por todas o rumo que se pretende dar à AMECON pois, só com a força de todos economistas Moçambicanos é possivel construir um futuro mais promissor e fazer da Associação um forte parceiro na erradicação da pobreza absoluta, mas o facto é que parece-me que ninguem quer arriscar-se a candidatar-se para os órgãos sociais, ou seja, para liderar os destinos da AMECON.
Diversas tentativas já foram feitas no sentido de elegerem-se novos corpos sociais da AMECON, em Assembleias Gerais Extraordinárias sempre adiadas por vários motivos, dentre os quais se destaca, na minha óptica, a falta de candidaturas para assumirem os destinos dos órgãos da AMECON nos próximos tempos. No aviso em referência a Comissão Eleitoral refere que as eleições para os novos Corpos Sociais para o Biénio 2009-2011 terão lugar na 1ª Quinzena de Abril de 2009.
Das conversas informais com economistas membros da AMECON, ex-colegas da Faculdade de Economia da UEM, alguns académicos, empresários e dirigentes Governamentais, todos eles economistas ou gestores, e do pouco tempo em que convivo com a AMECON, sinto que há algum receio de errar ou falhar quando se fala na AMECON, há um cepticismo em relação ao ambiente interno, onde possivelmente haja linguagens que não sejam permitidas, haja escolas de pensamento económico previlegiadas, haja resistência a mudanças e a aceitar que jovens economistas Moçambicanos tenham alguma coisa a opinar, haja ideias pre-concebidas sobre as quais emitir opiniões diferentes significa criar um afastamento de uma linha "ideológica" invisível, etc.
Por outro lado vejo na AMECON um sentimento de inconformismo dos órgãos actuais, porque muita coisa pode e poderia ter sido ser feita, e muitas vezes falta colaboração de um ou outro membro, e depois há aqueles que só querem entravar o processo de crescimento da AMECON, e esses não são poucos.
Espero que desta vez haja coragem, principalmente por parte da geração mais jovem, para assumir desafios em relação ao futuro da Associação Moçambicana de Economistas, de modo a que o País tenha uma classe de conomistas mais interventiva e que dê uma maior colaboração nas decisões de políticas de desenvolvimento e crescimento económico.
A AMECON já está em condições para passar para um debate mais intenso em relação a sua continuidade e aumento do número de membros, começar a admitir-se, a médio ou longo prazo, a criação da "ORDEM DOS ECONOMISTAS DE MOÇAMBIQUE", debater e fazer uma reflexão profunda sobre a introdução da carteira profissional do economista Moçambicano como forma de a AMECON contribuir na formação profissional dos economistas, reflectir-se sobre a participação da AMECON na elaboração, avaliação e homologação dos cursos de economia em Moçambique, juntamente com o Ministério da educação e com as instituições do ensino superior; Fazer uma maior ligação entre AMECON e as faculdades de economia e gestão em Moçambique, e com os respectivos núcleos de estudantes, dentre outras coisas.
Tudo isto é possível, mas para tal é preciso desfazer-se das incertezas e do medo, e assumir -se os desafios que se impõem, aceitando a diversidade e, mais do que ninguem, uma geração de jovens economistas é que está em melhores condições objectivas de fazer a viragem na AMECON, dado o actual contexto em que ela se insere.
Basílio Muhate
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Deve ou não o Estado Moçambicano Distribuir Crédito ?
Recentemente um outro economista Moçambicano, Hipolito Hamela, veio a público afirmar que uma das melhores vitórias do governo Moçambicano, na sua óptica, foi a introdução do fundo de desenvolvimento local, pese embora fosse necessário corrigir alguns aspectos. Portanto Hamela defende o intervencionismo do estado na alocação de credito.
A intervenção do estado na concessão de credito não serve para proteger os lucros do sector privado, mas para minimizar as rígidas condições que os Bancos Comerciais impõem ao desenvolvimento local de Moçambique, e para absorver o risco que o sector financeiro privado Moçambicano não assume, mesmo com a introdução de benefícios e incentivos por parte do Estado, que o Professor Carlos Castel-Branco se refere.
Basílio Muhate
sábado, 17 de janeiro de 2009
Bangy Cassy da Faculdade de Economia da UEM nomeado Reitor da UniZambeze
Na Faculdade de Economia da UEM muitos conhecem conheceram o Dr Bangy, Professor de Matemática, e eu fui um dos seus estudantes.
O Jornal noticias de hoje refere que Bangy Cassy é doutorado em Ciências Matemáticas pela Universidade sul-africana de Witswatersrand e desempenhou, sucessivamente, as funções de Assessor para Assuntos Pedagógicos do Vice-Ministro da Educação e Cultura, de Director Nacional Adjunto de Educação Geral no MEC e de Director Adjunto de Investigação e Extensão na Faculdade de Ciências da UEM.
Está de Parabéns o Dr Bangy não só pela nomeação, mas também pelo seu empenho na criação da UniZambeze, que pude testemunhar em conversas informais e das poucas vezes que pude me informar sobre a UniZambeze. Desejo Sucessos ao Dr Bangy e a UniZambeze.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Aumento da Taxa de lixo em Maputo
Se o nível de cobertura está a melhorar com a actual taxa de lixo (50Mt/mês), então porque fazer um acréscimo na mesma ?
O Jornal o País refere que Schwalbach citou o seu caso como exemplo afirmando que a produção média do seu agregado familiar é de aproximadamente 2,5Kg/pessoa/dia;
- seu empregado doméstico que reside em Maxaquene = 0,5kg/dia
Logo, o empregado doméstico residente no Maxaquene não deveria pagar a mesma taxa que o patrão que vive na Sommerchield.
Desde 2007 que o volume das receitas municipais em Maputo ronda aos 3,9milhões de meticais/mês e, segundo o Vereador, a estimativa de custos é de 12,5 milhões de meticais/mês (uma enorme diferença).
A Ideia do Municipio é aumentar as receitas para cobrir as despesas através do agravamento da taxa de limpeza.
Mas porque agravar a taxa de limpeza para aumentar as receitas municipais ao invês de introduzir medidas de REDUÇÃO DE CUSTOS ou ainda agravar outras taxas tais como os Impostos pessoais, taxas de mercados etc ?
A resposta é simples: a taxa de lixo ou de limpeza (esta é outra questão que merece um debate) é cobrada usando o sistema de facturação da Electricidade de Moçambique (EDM), portanto, todos os utentes de energia electrica, quer no sistema pre-pago (CREDELEC) ou nos pós-pago (Contrato) são obrigados a pagar a taxa de lixo quando pagam as suas contas consumo de energia electrica, ou seja a taxa de lixo vem inclusa mensalmente na factura ou no recibo de credelec.
Esta é a única via que garante uma cobrança de receitas ao município com um baixo risco de falhas e custos reduzidos. Não há certeza em relação a efectividade de uma medida de contenção de custos no município, nem em relação a acrescimos noutras taxas porque o risco de não pagamento é elevado.
Questões que ficam no ar !!
1. Porque decide-se por um aumento de taxas autárquicas numa altura em que falta cerca de 1 mes para o término de um mandato dos actuais órgãos do Municipio de Maputo ? Houve uma campanha eleitoral e não se tocou no assunto.
2. Será que esta medida anunciada por João Schwalbach tem cunho legal, foi alvo de análise e aprovação por parte do Conselho e posteriormente Assembleia Municipal de Maputo ? ou representa apenas a sua vontade pessoal.
3. Será que efectivamente um aumento das taxas de lixo vai originar uma melhoria da recolha ou é uma medida para fazer face a outras necessidades do município ?
4. O Jornal o País indica que a maioria dos munícipes aceita o agravamento da taxa de limpeza. EU NÃO ACEITO ! E logo, faço parte da minoria.
Basílio Muhate
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
O que é que as prostitutas e o arroz têm em comum ?
A primeira resposta possível que encontrou-se foi que prostitutas e arroz são ambos bens de Giffen, aqueles bens cujo aumento do preço provoca um aumento na demanda do bem (ceteris paribus), embora com algumas reticências por parte do autor.
O autor toma o exemplo da China para demonstrar que o aumento do preço do arroz induz a um aumento na quantidade demandada, o mesmo servindo para as prostitutas, onde segundo Levitt, os clientes das prostitutas por várias razões não desejam a opção mais barata. O Post de Steven Levitt teve mais de 250 comentários com as mais variadas respostas. Vale a pena ler.
Fica a questão: o que é que prostitutas e arroz têm em comum ?
Basilio Muhate
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Que Agricultura queremos em Moçambique? - Por Dino Foi
Ouvi há dias, uma funcionária sénior do Ministério da Indústria e Comércio a propôr em público ao Governo, como medida económica, para que os preços de trigo do lado Moçambicano se equiparassem aos dos dealers do Malawi que compram a 12 meticais o quilo, o Governo devia acrescentar, em jeito de subsídio, o valor remanascente (4 meticais), pois o comprador Moçambicano só pode pagar 8 meticais e, os vendedores preferem entregar aos Malawianos!
Já há muito tempo que cantamos que a agricultura é a base do desenvolvimento, um slogan que parece estar a esmorrecer nos últimos anos, agora há uma ala a dizer que já é o turismo, mas uma outra ala ainda vai mais longe, apoia a energia como a tal base do desenvolvimento. O mérito de uma opção ou da outra é discutível e, dependendo de que lado cada governante quer levar as suas políticas, as divergências vão se notando.
Dados empíricos (World Bank, 2008a) indicam que em Moçambique, os Serviços correpondem a 46.7%, seguindo a Agricultura (27.6%) e Indústria (25.7). Estes dados não parecem fazer crer que a afirmação sobre a agricultura seja a mais acertada e, a queda da taxa anual de crescimento do sector de agricultura de 10.9 em 2006 para 6.6 em 2007, vem discordar mais uma vez a falácia popular.
O Plano Estratégico do Desenvolvimento Sector Agrário 2009-2018, doravante PEDSA, documento que vai guiar a agricultura de Moçambique nos próximos 10 anos, nega categoricamente a queda da contribuição da agricultura no nosso Produto Interno Bruto (PEDSA, 2008 p. 19), atribuindo a “culpa” aos megaprojectos. Mas como que para contrariar esta conclusão, a contribuição da agricultura no nosso PIB caiu de 44.1 em 1987 para 34.9 em 1997 (World Bank, 2008a) e, nessa altura não existia Mozal, Gás de Pande e muito menos Areias Pesadas de Moma.
Explicações para o facto existem e, penso que antes de se tirar conclusões, seria aconselhável munir-se de ferramentas suficientes, porque no meu entender, esta secção do PEDSA não pode ser explicada de uma maneira tão simples e despida como se quer mostrar, principalmente se formos a ver que a nossa importação de alimentos saltou de 30 milhões em 1997 para 526 milhões de dólares em 2007 ((World Bank, 2008a), uma análise em time series (Anderson,1976; Box & Jenkins,1976), e Trend Analysis (Schaefer, 1995) ajudaria a compreender melhor esta tendência, mas talvez para isso um economista deveria ser chamado, continuo a apoiar a teoria do meu amigo.
Numa reunião havida no Ministério da Agricultura no dia 16 de Dezembro de 2008, sobre a produção do trigo em Moçambique na campanha 2007/2008, ficou claro que mesmo com apoio (leia-se, de borla) de 150 toneladas de semente, 63 mil unidades de sacos e 17 mil foices, em 5,300 hectares só se produziu cerca de 6,500 toneladas de trigo. O mais caricato é que a companhia que deveria comprar o trigo, das 600 toneladas programadas só conseguiu adquirir 7 toneladas em Rotanda e das 2,000 toneladas programadas para Tsangano, também só existiam 7 toneladas. A partir deste ponto, não é preciso ter um doutoramento em economia para concluir que algo não vai bem na nossa agricultura.
A questão é, se mesmo com todos os subsídios o custo da tonelada do nosso trigo ainda é o dobro dos preços internacionais, não será altura de parar e analisar com os entendedores da matéria?!
Adam Smith há mais de 200 anos já preconizava que os países precisam de se especializar naquilo que podem produzir eficientemente e adquirir os outros produtos de outrem (Smith, 1776), teoria que mais tarde foi refinada em vantagem comparativa (Ricardo,1817; Cairnes, 1874) , e muito recentemente em vantagem competitiva (Porter, 1985; 1990) . Há uma necessidade de apostarmos naquilo que podemos fazer eficientemente e importarmos a outra parte. Japão produz carros mais barato que os EUA e importa comida, Taiwan faz o mesmo com os químicos e se especializa em plástico e tecnologia, os EUA produzem eficientemente equipamento para telecomunicações e importam computadores. Os exemplos acima são apenas para elucidar que, todos estes países poderiam eficazmente produzir o que importam, mas em economia é a eficiência que mais conta.
O Governo planeia reduzir as importações de trigo em 20% até 2011, uma meta, no meu ver, muito ambiciosa, principalmente se olharmos o panorama exposto na reunião sobre o trigo. O meu cepticismo ainda é reforçado pelo documento do (PEDSA, 2008) onde podemos citar: “...a produtividade do trabalho do sector agrário é bastante baixa, o que é ilustrado pelo facto de três quartos (75%) da força laboral nacional produzir apenas um quarto (25%) do Produto Interno Bruto... p.12”, isto no que se refere a taxa da produtividade da agricultura. Até aqui se não tocam sinos na cabeça de alguém, então estamos mal, porque o ideal seria a Lei do Pareto (Wood & McLure, 1999), onde 20% da força do trabalho produzisse 80% do Produto Interno Bruto.
Adiante, o mesmo documento informa que “... o nível de utilização de insumos no país é extremamente baixo, não havendo uma tendência evolutiva (positiva) nos últimos 5 anos... p.13”. O documento vai mais longe, especialmente onde tratou da questão da irrigação “...Dos cerca de 4 milhões da superfície agrícola em cultivo menos de 0,5% encontram-se irrigadas...” e, no capítulo da mecanização, o mesmo afirma que 1% das explorações agricolas é que mencionam o uso de tractor e 1% o uso de charrua (PEDSA, 2008 p.14). Se a taxa de produtividade é extremanente baixa, e nos últimos anos não houve uma tendência positiva da mesma, de onde virá esta varinha mágica para aumentar a produção de trigo em 3 anos?!
Um aumento de produção do género que o Governo quer, já devia ter indicações positivas no ano zero do plano (2007/2008), devia ter um plano de acção na cadeia de valor onde infraestruturas condignas deveriam existir e, o camponês (não concordo com a terminologia, mas deixo para um outro debate) passaria para pequeno produtor orientado ao lucro, com acesso a um crédito bonificado e, um acompanhamento do seu desenvolvimento.
A agricultura de “cabo curto”, em que a terra é lavrada com enxada, onde a semente é puramente atirada ao solo e se fica a espera da chuva não vai trazer melhorias à nossa economia, desculpem me os decisores de políticas macro-económicas deste país. O pequeno produtor só vai sair da pobreza absoluta se puder produzir eficientemente e vender o seu produto. Este mesmo, leva o dinheiro da operação aumenta a sua área de produção, manda os filhos para a escola, tem alguma poupança para o banco e até paga o imposto ao Estado.
Não esqueçam as lições básicas, o problema que vivemos não é exactamente da produção, porque essa até existe e nos slides de powerpoint até fica muito bonito quando apresentado em plenária, mas lembremo-nos, a questão mesmo é a produtividade. Quantas toneladas de trigo podemos produzir num hectar? O departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2008) projecta uma produção global na ordem de 683.98 mil milhões de toneladas de trigo para 2008/2009, talvez fosse bom começarmos a olhar para estes números e ver como vão afectar a nossa produtividade e, os preços do trigo produzido localmente.
Se não estivermos munidos no próximo ano, temo estar na mesma sala no Ministério da Agricultura a ouvir um técnico sénior a dizer qu a culpa de não haver trigo em Moçambique é dos Malawianos que se assentam na fronteira e compram todo trigo Moçambicano e que o Governo deveria compesar subsidiando o remanascente! Claro, numa economia de mercado quem paga mais é que fica com o produto. Numa economia em que agricultura se quer competitiva, as estradas devem estar em dia para o escoamento do produto, deve haver uma mecanização efectiva, uma cadeia de distribuição eficiente onde cada um sabe exactamente qual é o seu papel.
Obviamente que para uma agricultura competitiva é necessário uma mão forte do Governo através de políticas que fomentem a pratica da actividade, mas olhando os custos envolvidos na produção, o que faz com que os nossos produtos sejam mais caros que os importados como acima referido, aliados a pratica de criação de documentos nos escritórios e sem nenhuma base empírica, faz com que muita gente não abrace esta actividade. Pelo menos não para os empresários, que o seu objectivo final é reduzir custos e aumentar a sua renda. E mais, aqueles que aceitam o desafio, fazem-na só naquelas culturas que acham que tem uma vantagem competitiva (banana, cana de açucar, citrinos, vegetais, tabaco, etc), ficando a parte produção de comida para a população uma actividade do Estado.
Deve haver uma linha clara do que se espera do sector, porque duvido que haja um privado que se vá aventurar na produção de algo enquanto que essa mesma cultura é duas vezes barata em outros países. Independentemente da tecnologia que utilizarmos, vai ser difícil competir com países como China, Vietname, Tailândia por exemplo, numa produção de arroz. Faremos grandes investimentos mas não teremos vantagem competitiva, seria como encetar uma corrida com um beduíno no deserto de sahara. O valor adicional do trabalhador Moçambicano na área da agricultura (World Bank, 2008b) é um dos mais baixos do mundo (US$ 137), e se compararmos com uma África do Sul (US$ 2,391), veremos o quão distante do aceitável estamos. Se o programa do Governo para agricultura em Moçambique é certo ou errado, não é objecto desta discussão, mas que ele precisa de ser melhorado, não há sombra de dúvidas.
Então, vamos olhar para aquele produtor, que quer aumentar a sua renda através de cultivo de espécies rentáveis. Só assim alavancaremos a cadeia de valor, que poderá chegar ao pequeno produtor, o vulgo camponês. Se este quer produzir culturas de rendimento, deixemos que assim o faça porque no final, o resultado da venda (dinheiro) pode usar para comprar arroz de Chokwé (se for competitivo) ou importado de Vietname e frango de Chimoio (se for competitivo) ou importado do Brasil.
O horizonte do Pedsa é muito distante e a volatilidade dos mercados nos últimos anos faz com que as grandes companhias nem consigam planear para um período de mais de 2 anos, e nós estamos a trazer um megaplano para 10 anos!
As projecções económicas mundiais não só decresceram mas também a incerteza é total, deve-se incluir este factor “incerteza” na equação final do Pedsa.
Dino Foi
Referências
1. Anderson, T. W. (1976) `Estimation of Linear Functional Relationships: Approximate Distributions and Connections with Simultaneous Equations in Econometrics', Journal of the Royal Statistical Society, Series B, 38, 1, 1—20
2. Box, G.E.P., & Jenkins , G.M. (1976) Time series analysis: forecasting and control.Revised edition Holden-Day, San Francisco, CA.
3. Cairnes, J. E. (1874). Some Leading Principles of Political Economy. Harper & Brothers Publishers. New York
4. Pedsa (2008). Plano Estratégico de Desenvolvimento do Sector Agrário 2009-2018. Ministério da Agricultura. Maputo
5. Porter, M. E. (1985). Competitive advantage. Free Press, New York
6. Porter, M.E. (1990). The Competitive Advantage of Nations. Free Press. New York.
7. Ricardo, David (1817), On the Principles of Political Economy and Taxation. London.
8. Schaefer, H.G. (1995), International Economic Trend Analysis, Westport. Quoram.
9. Smith, A. (1776), An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. W. Strahan and T. Cadell. London.
10. USDA (2008): World Wheat Supply and Disposition. Accessed at http://www1.agric.gov.ab.ca/$department/deptdocs.nsf/all/sis5349
11. Wood, J.C. & Mclure, M. Eds (1999), Vilfredo Pareto: Critical Assessments of Leading Economists. Routledge, 4 Vols. London
12. World Bank (2008a), Mozambique at Glance. Accessed on 18th December 2008, at http://devdata.worldbank.org/AAG/moz_aag.pdf
13. World Bank (2008b). World Development Report 2008: Agriculture for Development. World Bank. Washington, D.C.