Blog sobre Moçambique

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Crises financeiras: Falhas de Governos ou de Mercados ?

John Taylor escreveu há semanas na sua coluna do Magazine Forbes, sobre o efeito das políticas governamentais na geração da crise económica internacional e no seu artigo qual teria sido a principal causa, se as falhas do governo ou as falhas de mercado. Surpreendentemente Taylor aponta as falhas do Governo como principal causador e impulsionador da crise, contrariando grande parte do debate que aponta as falhas do mercado como o principal causador da crise.

Cliff Winston, no seu livro Falhas do Governo Versus Falhas de Mercado, chega a mesma conclusão básica de evidencia empírica, sugerindo que o custo social do fracasso de um governo pode ser consideravelmente maior do que a falha de mercado. No seu livro, Winston aponta que grande parte das pesquisas sobre a crise financeira são encomendadas, realizadas e co-financiadas por governos, o que leva muitas vezes a serem tendenciosas e inconsistentes.

Do acima descrito fico com duas questões: Estará Jonh Taylor a ser demasiado neoliberal, será que as teorias economicas, para esta crise, nunca falharam, apenas falharam as políticas económicas ao longo dos últimos anos? Ou por outro lado, será que é preciso rever-te todo o debate que se fez em torno da crise financeira internacional.

Em Moçambique, a crise financeira fez-se sentir relativamente menos em 2008/2009 em relação aos países da região. O mercado de aluminio provocou uma queda das exportações, mas em contrapartida houve uma série de efeitos compensatórios (queda dos preços de petróleo e de alimentos, donativos internacionais assegurados).

O Governo Moçambicano, em termos de política económica, provavelmente faça aquilo que outros governos da região e do mundo não estejam a fazer para evitar as falhas do governo apontadas nos primeiros parágrafos deste texto.

A descentralização das finanças públicas e a introdução do fundo de iniciativa local, a indrodução do imposto simplificado para os pequenos constribuintes, a expansão da base tributária e a melhoria significativa do nível de colecta de receitas fiscais, aliados às intervenções de política monetária do Banco de Moçambique, são algumas das decisões e acções de política económica que contribuiram para que em Moçambique não se verificasse esta permissa de Taylor, de forma acentuada, nos últimos anos.

Afinal de contas quem é que provoca as crises ? os governos ou os mercados em si ?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O PRESIDENTE GUEBUZA E O FUNDO DE INVESTIMENTO EM INICIATIVAS LOCAIS - OS 7 MILHÕES

Basílio Muhate

Não há dúvidas de que os 7 milhões de meticais alocados aos desenvolvimento dos Distritos em Moçambique, através do Fundo de desenvolvimento Local, constituem uma forte alavanca para que ao nível local se façam sentir os efeitos da descentralização que o governo Moçambicano está a levar à cabo e se criem condições para o incremento do rendimento disponível dos cidadãos residentes nas zonas rurais. Também não há dúvidas que um dos maiores, senão o maior impulsionador e mobilizador desta campanha Nacional do FIIL é o Presidente Armando Guebuza.

Os Fundos de Investimento em Iniciativas Locais priorizam a alocação de recursos em zonas com vantagens comparativas para tornar o Distrito num polo de atracção de investimentos .

Não é menos verdade que o fundo de desenvolvimento local de Moçambique constitui um fenómeno novo o que causa dificuldades inerentes à sua gestão por parte dos agentes envolvidos na sua utilização, nomeadamente os Governos e Conselhos Consultivos Distritais (CCD´s) e locais e os beneficiários de empréstimos. Este fundo, ainda considerado por muitos analistas como algo novo no seio dos Moçambicanos, ainda está por alcançar o nível desejado do ponto de vista de gestão e de produção de resultados ao nível dos distritos.

Logo após a aprovação deste fundo, e com a criação dos CCD, órgãos constituídos por pessoas influentes ao nível Distrital, que deliberam sobre a aprovação ou não de empréstimos para levar à cabo projectos de investimento ao nível do Distrito, muito pouco se sabia ao nível distrital sobre como utilizar aqueles 7 milhões de meticais. Esta situação, que estava aliada à fraca capacidade de formação dos CCD´s em termos de análise e gestão de micro-projectos de investimento, levou a uma situação em que foram alocados valores para fins diferentes, nomeadamente a construção de escolas, centros de saúde, casas de administradores distritais, reabilitação de ruas, construção de pontes, combra de mobiliário diverso, etc.

Estas iniciativas não eram de todo más para os Distritos, mas constituiam uma alocação dos fundos pouco mensurável pois o Governo Central já previa orçamentos anuais para estas iniciativas acima descritas. Foi necessário investir na formação dos membros dos CCD´s em matérias ligadas à gestão dos fundos nos anos 2006 e 2007. Foi igualmente necessário e muito didático que o Chefe do Estado Moçambicano, ARMANDO EMÍLIO GUEBUZA, durante as Presidências Abertas que efectuou anualmente, andasse pelo País com um discurso de educaçãoe e formação dirigido aos órgãos de administração locais. Em 2007 o Presidente da República andou pelos distritos a explicar à população que o Fundo de Desenvolvimento Local não era senão para a PRODUÇÃO DE COMIDA E DE POSTOS TRABALHO. Esta mensagem , por incrível que pareça, comecou a ser melhor compreendida após a Presidencia Aberta de 2007 e o cenário de gestão e utilização dos 7 milhões mudou de figurino, com maior prioridade para a produção de comida e geração de postos de trabalho. Isto pode significar, dentre outros, que a mensagem do mais alto dignatário da Nação fez-se sentir em termos reais nos utilizadores e gestores deste fundo.

Seguidamente surgiu um novo dilema: os empréstimos concedidos aos produtores de comida e postos de trabalho estavam a registar reembolsos muito aquem do desejado. Isto significa dizer que as associações solicitam junto do CCD empréstimos para levar à cabo iniciativas rentáveis, mas depois a capacidade de rembolso dos valores solicitados era deficiente, o que dificultava a concessão de novos empréstimos. Mas a questão de fundo é que as pessoas e associações tomadoras de empréstimos provavelmente não tinham consciência clara da necessidade de reembolso.

Uma vez mais, em Presidência Aberta 2008, o Presidente Armando Guebuza, voltou ao moçambique real, aos distritos, para mais uma vez explicar aos Moçambicanos que O DINHEIRO DOS 7 MILHÕES É PARA SER DEVOLVIDO e que DINHEIRO NÃO SE DÁ. Mais uma vez o mais alto dignatário da Nação teve que deslocar-se às bases para fazer passar uma acção de formação em gestão de finanças locais, algo que podia ser prefeitamente realizado ao nível provincial ou mesmo distrital.

Por exemplo, tive a oportunidade de visitar o Distrito de Mágoè, na Província de Tete onde pude na vila Mphende e um pouco em Chinthopo e Mucumbura trocar impressões sobre com alguns residentes daquele distrito do País e saber um pouco mais da suas impressões destes em relação ao impacto do FIIL sobre as suas vidas.

As pessoas com quem pude falar eram todas unánimes em afirmar que o fundo atribuido ao desenvolvimento do distrito constituia uma grande oportunidade de melhorar as suas condições de vida e sentiam que a Governação do Presidente Guebuza estava muito mais descentralizada com os 7 milhões. Apesar de as pessoas com quem conversei aleatoriamente em Magoe serem pessoas com uma instrução relativamente baixa e com dificuldades de expressão em lingua portuguesa, senti neles a convicção de que o Presidente Guebuza com esta iniciativa está a dar oportunidades aos residentes de melhorarem as suas condições de vida.

Depois de andar um pouco mais por Mágoè em busca do efeito do FIIL naquelas populações, deram-me a referência de uma Associação chamada Associação Mata Fome de Cazindira, para onde desloquei-me afim de continuar com as minhas buscas pelas maravilhas que os 7 milhões estariam a fazer em Tete. Efectivamente a Associação, fundada em 2005, beneficiou-se em 2007 do financiamento do FIL para a implementação de um projecto agricola, onde produzem feijão manteiga, batata-reno e alho dentre outras culturas alimentares. Hoje estão efectivamente a contribuir para a redução da pobreza naquele ponto do País.

No entanto o que me surpreende nestes distritos de Moçambique pelos quais tive a oportunidade de passar, com as mesmas características que Mágoè, é o ritmo acelerado em que o desenvolvimento acontece em função deste fundo. Em Mágoe, um distrito com acessos ainda por melhorar, com comunicações ainda por melhorar, com uma série de infra-estruturas por melhorar, as pessoas identificam-se muito com a forma como o Presidente Guebuza está a levar à cabo esta ideia de descentralização, e ficam ainda mais satisfeitas com o diálogo que a governação tem proporcionado, sem no entanto deixar de farezer referência a alguns aspectos de gestão do FIIIL, que lhes afligem tais como os casos em que o fundo é alocado para fins alheios aos objectivos definidos, ou quando o emprestimo não é reembolsado, dentre outros. As pessoas exigem que haja uma maior transparência na Gestão do FIIL.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Moçambique e Portugal criam banco de investimento

Maputo - Os governos de Portugal e de Moçambique vão associar-se, à semelhança do que já aconteceu com Angola, para criar um banco de investimento, com um capital social de 344,5 milhões de euros, com sede em Maputo e uma sucursal em Lisboa.
O objectivo da nova instituição é incentivar a criação de parcerias empresariais luso-moçambicanas, nomeadamente no sector das infra-estruturas (saúde, energia, educação) e na formação dos recursos humanos. O banco luso-moçambicano vai ter um capital inicial de 344,5 milhões de euros (500 milhões de dólares), detidos em partes iguais pela Caixa Geral de Depósitos e pela Direcção Geral do Tesouro moçambicano. O memorando de entendimento para a criação do banco foi assinado esta terça-feira em Maputo entre os ministros das Finanças dos dois países, Manuel Chang de Moçambique e Teixeira dos Santos, ministro das Finanças português. Para além de Teixeira dos Santos a cerimónia contou com as presenças do secretário de Estado do Tesouro e Finanças português, Carlos Costa Pina, e do vice-presidente da CGD, Francisco Bandeira.Teixeira dos Santos explicou que o novo banco poderá não só financiar como também participar em projectos de desenvolvimento. É uma «iniciativa fundamental para criar aqui um quadro de apoio ao reforço de parcerias que queremos que se constituam entre portugueses e moçambicanos, em projectos e investimentos que sejam fulcrais para o desenvolvimento da economia moçambicana», disse Teixeira dos Santos. Manuel Chang elogiou o crescendo da cooperação entre dos dois países e disse que quer ver o banco constituído «o mais urgente possível», lembrando que as linhas de crédito se destinam a projectos de infra-estruturas rodoviárias.A visita de um dia de Teixeira dos Santos a Moçambique serviu também para assinar com o Governo de Maputo uma adenda que reforça para 200 milhões de euros uma linha de crédito assinada no ano passado e um novo acordo de financiamento de financiamento de 300 milhões de euros.

(c) PNN Portuguese News Network

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Mercado cambial: o complicado cenário moçambicano*

  • “Exige-se maior comunicação no sector financeiro”, Basílio Muhate, economista
  • “Isto é sinal de alguma perturbação”, Waldemar de Sousa, porta-voz do Banco de Moçambique

Por: Daniel Maposse

As taxas de câmbio, a nível nacional, principalmente no que diz respeito ao dólar norte-americano, que é a principal divisa internacional, andam às “cambalhotas”, com as casas de câmbio a assumir o “comando” das operações em detrimento da “saúde” das reservas internacionais, cujo robustecimento é fundamental para a estabilidade económica do país. Enquanto o economista Basílio Muhate propõe maior comunicação entre os que movimentam a “massa”, o banco central moçambicano admite alguma perturbação no mercado.

É que, desde que, na maior economia do mundo, os Estados Unidos da América (EUA), despoletou a crise económica que já se alastrou pelo mundo, o dólar norte-americano, que é a principal moeda nas transacções internacionais, tem vindo a experimentar momentos difíceis no mercado cambial internacional, facto que obrigou a China a colocar à mesa das principais economias do mundo a possibilidade de se substituir o dólar por uma outra divisa internacional possivelmente por criar.
Perante este cenário, o Presidente norte-americano, Barack Obama, assegurou ao mundo que a moeda do seu país continua válida para as transacções internacionais, considerando que, com as medidas de estímulo económico, que custaram biliões ao tesouro americano, aquela economia voltaria a crescer, o que, obviamente, colocará o dólar norte-americano de novo, em cima.
Aliás, o actual panorama financeiro internacional, de facto, aponta para algum fortalecimento da divisa norte-americana.
Em Moçambique, mesmo na altura em que o dólar norte-americano esteve a “cair”, enquanto os bancos comerciais seguiam a tendência, as casas de câmbio faziam o contrário.


Basílio Muhate, jovem economista, explica que “o que se verifica é uma subida do dólar face ao metical, principalmente nas casas de câmbio, e que provavelmente o Banco de Moçambique não tenha conseguido, com os seus instrumentos, influenciar as casas de câmbio no sentido de se alinharem ao panorama geral do dólar norte-americano”.
Muhate ajunta que, sob ponto de vista da legislação, Moçambique não tem poder de influenciar directamente as casas de câmbio naquilo que devem ser as suas actividades do dia-a-dia nas transacções monetárias.
“O que se verifica é que o dólar está a valorizar-se, as bolsas americanas estão a registar boas indicações, provavelmente seja o efeito Obama, que restaurou a autoconfiança no panorama financeiro americano, ao que se conjugam outros factores, como por exemplo, a falência e consequente reestruturação da General Motors (uma empresa do ramo automóvel), é isso que está a ter efeitos no país”.
Debruçando-se em torno das cambalhotas cambiais, Basílio Muhate expõe que “se formos a comparar é que tu tens o dólar a variar entre 26,00 e 27,00 meticais nos bancos comerciais, numa altura em que nas casas de câmbio ronda nos 29,00 a 30,00 meticais, e é por isso que os consumidores, se querem trocar dinheiro, preferem as casas de câmbio.

Efeito manada
A dado passo da sua conversa com o MAGAZINE, Muhate, o Basílio, elucida que as tabelas cambiais das casas de câmbio estão a observar aquilo que chamou de efeito manada, uma situação em que se um búfalo atravessa uma estrada os outros elementos da manada lhe seguem o exemplo, em bloco.
É que, segundo ele, as casas de câmbio não se comunicam entre si, e, quando uma delas sente que a outra está a praticar uma taxa um pouco acima a primeira sente-se a perder e, também, agrava a taxa de modo a superar a concorrência, calculando que estejam (todos) a ganhar, caminham para uma direcção que não espelha a situação real do Mercado Cambial Interbancário (MCI).
Para ilustrar, Muhate refere que “quando o dólar norte-americano sofreu depreciação a nível internacional no país registou valorização e isso é o tal efeito manada. Sendo o Banco de Moçambique uma autoridade monetária, sugere-se que, além dos instrumentos de política monetária recorra a factores de persuasão que podem surtir algum feito. O BM e os bancos comerciais comunicam-se, mas também é importante que a comunicação entre os agentes (bancos comerciais e casas de câmbio e estas entre si) melhore dentro do sistema financeiro moçambicano para evitar que haja disparidade cambial e especulação”.
Outro factor exposto por Muhate é que todos aqueles que auferem os seus salários em dólares norte-americanos, mesmo recebendo o seu dinheiro por via dos bancos comerciais, retiram o dólar (dos bancos) e vão convertê-lo em meticais nas casas de câmbio e dificilmente retorna aos bancos, porque as casas de câmbio dão destinos diversos ao dólar, na medida em que algumas vezes retêm a moeda para uma possível especulação ou simplesmente exportam-na.
“Acho que é preciso melhorar o fluxo de comunicação, supervisão e persuasão moral entre os bancos comerciais e as casas de câmbio. Sinto que em relação aos bancos comerciais o banco central faz alguma aproximação ao mercado, sinto também que devia fazer e com mais incidência em relação às casas de câmbio porque, de outro modo, o banco central fica com dificuldades de se informar sobre o fluxo desta moeda no mercado, porque, ora vejamos: se temos um banco central que não tem controlo sobre o fluxo da moeda estrangeira, por causa da taxa de câmbio nas casas de câmbio, assim o banco central fica sem capacidade para comprar o dólar”.
Ainda em relação a esta questão cambial, Muhate chama à atenção das autoridades no sentido de se evitar uma economia tremida.
“Há dias os agentes económicos reclamaram a escassez de dólares por causa das casas de câmbio que, possivelmente, retinham esta moeda, provavelmente, para efeitos de especulação”.
Muhate disse-nos ainda que a escassez de moeda estrangeira para o bom ambiente de negócios e para as exportações não se afigura saudável.
Outra questão a que se referiu é o facto de, qualquer transacção de dinheiro, em moeda estrangeira, num banco comercial, levar muito tempo, o que, segundo ele, leva os detentores desta moeda a buscarem soluções mais flexíveis.
Debruçando-se em torno do efeito desta aparente falta de comunicação entre os actores do MCI, Muhate explica que “o nosso Orçamento do Estado é dependente, em grande medida, da ajuda externa e é por isso que as reservas internacionais representam a ajuda externa.

O Banco de Moçambique


O Banco de Moçambique, através do seu porta-voz, Waldemar de Sousa, veio recentemente a público admitir que o Mercado Cambial Interbancário (MCI) está, de facto, a sofrer alguma perturbação.
Em relação ao papel fiscalizador do banco emissor, Sousa justifica que “não existe regime de taxas fixas, ou seja, o Banco de Moçambique não impõe (as taxas de câmbio) aos bancos comerciais nem às casas de câmbio, há, de facto, códigos de conduta que regulam a actividade dos vários seguimentos do MCI e segmentos do mercado, no geral”.
Em seguida, o porta-voz do banco central moçambicano realça que “o apelo que fazemos, sempre, é que, todos nós, estamos sujeitos a observar esses códigos de conduta. Os códigos de conduta acabam por exigir boas práticas, estamos, de facto, preocupados com o nível de stress observado nas taxas de câmbio, das casas de câmbio, em relação às taxas de câmbio nos bancos comerciais, porque (nas casas de câmbio) estão a aumentar. Isto é um sinal de alguma perturbação que o segmento do mercado está a revelar”.
Por outro lado Waldemar de Sousa explica que, além da perturbação a que fez referência, há que considerar que existe um sinal extremamente positivo entre Maio, Abril e Junho em que o mercado está calmo.
“Se formos a analisar uma variação mais recente, a situação das taxas de câmbio é de acalmia. Sazonalmente, é, também, reconhecido um período problemático que são os primeiros trimestres de cada ano em que a procura de divisas, no mercado, aumenta para necessidades diversas dos importadores, depois do que voltamos a ter o nível de procura relativamente baixo, altura em que os bancos começam a adquirir exportações, ou seja, a actividade exportadora começa a crescer e os fluxos de ajuda externa crescem a partir desse período”.

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* Fonte: Semanário Magazine Independente, na sua edição de 22/07/09, pp 24-25

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Nacionalismo Vs. Economia Africanas actuais (visão de Moeletsi Mbeki)

Moeletsi Mbeki, Economista e empresário sul-Africano, lançou recentemente a obra Arquitectos da pobreza, um livro onde o autor apresenta a sua visão em relação ao nacionalismo africano, olhando para o actual cenário das economias africanas, com maior ênfase para o seu país, a áfrica do Sul e para o Zimbabwe.

Segundo Mbeki, o continente africano continua preso a fase mercantil do capitalismo e o nacionalismo africano teve a contradição de ver o seu inimigo (o colonialismo neste caso) como um modelo. Mbeki toma como exemplo, em entrevista a um jornal sul Africano, o nacionalismo Afrikaner que odiava o imperialism britânico e que logo de seguida modldou-se à imagem do imperialism, o mesmo acontecendo com o Congresso Nacional Africano (ANC)

O Black Economic Empowerment Segundo Mbeki, provocou diferenças salariais expressivas entre os membros do Governo e as massas sul africanas, gerando desigualdades geradas pelas contradições so sistema social causadas pela herança do nacionalismo sul-africano.

Ainda Segundo Moeletsi Mbeki, o colonialismo africano não criou economias industriais (provavelmente o Economista Moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco um dia nos fale sobre o tema) e os nacionalistas africanos destruiram a pouca actividade industrial existente, socorrendo-se do Zimbabwe actualmente com uma industria em colapso.

Ainda sobre a Africa do Sul, Mbeki considera que o seu país tem sido excessivamente consumista e importador nos últimos anos, o que está a causar desemprego, o que poderá levar a desindustrialização da África do Sul

Na sua entrevista, Mbeki defende que “Precisamos de pôr mais dinheiro na educação. A China, por exemplo, produz 600 000 engenheiros por ano. Repare para o número de revisores oficiais de contas (ROC) Africanos: nos últimos 15 anos formámos 1 000 ROC, mas um número considerável de ROC negros Sul-Africanos não foram formados cá. Este país não está a formar a sua força de trabalho. Julgamos que podemos viver da nossa riqueza mineral.

Comentário:

A entrevista de Moeletsi Mbeki, que pode ser lida aquihttp://i.ixnp.com/images/v6.1/t.gif em versão portuguesa provavelmente seja importante para percebermos um pouco mais da economia sul-africana e do Zimbabwe em particular, mas era importante que tentassemos fazer alguma ligação destas abordagens com a economia Moçambicana, e com o Nacionalismo Moçambicano.

Será que o capitalismo tomou conta dos nacionalistas Moçambicanos no pós-independencia ? Após a independência nacional a 25 de junho de 1975, foi instituido no país um regime que advogava a propriedade públicahttp://i.ixnp.com/images/v6.1/t.gif ou colectiva e administração dos meios de produção e distribuição de bens e uma sociedadehttp://i.ixnp.com/images/v6.1/t.gif caracterizada pela igualdade de oportunidades/meios para todos os indivíduos com um método mais igualitário de compensação socialistahttp://i.ixnp.com/images/v6.1/t.gif , cuja base de sustentação política e económica se viria a degradar progressivamente até à abertura feita nos anos de 1986-1987, quando foram assinados acordos com o Banco Mundialhttp://i.ixnp.com/images/v6.1/t.gif e FMIhttp://i.ixnp.com/images/v6.1/t.gif, ditada pela crise económica em que o País se encontrava e pela guerra de desistabilização política e económica que durou cerca de 16 anos.

O Banco Mundial indica aquihttp://i.ixnp.com/images/v6.1/t.gif que o prolongado conflito resultou na destruição da infraestrutura económica e social do país, na deslocaçao maciça da população e perturbação da actividade económica. O país recém independente herdara, do seu passado colonial, uma economia altamente dualista, sendo pequeno o número de moçambicanos preparados para desempenhar funções governamentais, profissões liberais ou actividade commercial. As condições sociais eram das piores do mundo: a expectativa de vida à nascença estava calculada ern 41 anos, a taxa de alfabetismo só atingia 7%, e a populaçao era étnica e linguisticamente heterogénea. Face a estes obstáculos, O Governo resolveu enveredar por um planeamento central da economia e descurou a promoção de uma classe ernpresarial e o enquadramento institucional necessário para uma economia de mercado.

Moçambique não teve um Black Economic Empowerment , mas diferentemente do Zimbabwe e da África do Sul, muito cedo fez as nacionalizações e muito se escreveu sobre isso. Pode-se ver um texto interessante sobre as Nacionalizações em Moçambique aquihttp://i.ixnp.com/images/v6.1/t.gif.

Efectivamente tal como no caso advogado por Moeletsi Mbeki, é importante um grande investimento público na educação em Moçambique, particularmente no ensino tecnico-profissional, aliás o colonialismo não deu oportunidade aos Moçambicanos de se formarem muito menos especializarem.

Aguardo comentários sobre possiveis o paralelismo que possa existir entre a crítica ao nacionalismo africano de Moeletsi Mbeki e a visão dos Moçambicanos sobre o Nacionalismo Moçambicano e a sua comparação ao actual regime económico em vigor.

sábado, 27 de junho de 2009

Ainda Sobre a Revolução Verde - como impulsionar em Moçambique ?

Aproximadamente dois terços da população do Continente Africano sustenta-se em pequenos campos agricolas que muitas das vezes falham em produzir alimentos suficientes para o auto-sustento das próprias familias.

Estive a ler Dwyer Gunn no New York Times, onde aponta que Europa, América e Asia tiveram suas "revoluções verdes" que resultaram no aumento da produtividade, o que permitiu que os pequenos agricultores enviassem os seus filhos para estudarem nas grandes cidades o que não está a acontecer no continente Africano.

Ainda segundo Gunn um recente relatório de Desenvolvimento do Banco Mundial conclui que para as pessoas mais pobres, o crescimento do PIB originado da agricultura é cerca de quatro vezes mais eficaz no aumento da renda das pessoas em situação de pobreza extrema do que o crescimento do PIB proveniente de fora do sector.

Robert Paarlbeg, autor de Starved for Science: How Biotechnology Is Being Kept Out Of Africa, aborda sobre o investimento em agricultura por parte dos Governos africanos e das ONG´s com início na década de 80. Este autor, essencialmente, refere-se que há um distanciamento em áfrica de uma agricultura baseada na Ciência, que faz sentido nos países ricos onde a ciência já deu muita produtividade à agricultura. Mas esta abordagem é perigosa quando arrastada para África onde muitos agricultores continuam encurralados na pobreza porque não têm acesso à Ciência.

Assim, independentemente dos métodos escolhidos, algo terá de ser feito para aumentar a produção alimentar entre os pequenos agricultores em África ou o meio ambiente vai sofrer. Em qual das opções teremos que alinhar ? Vamos aumentar os rendimentos agrícolas em terras já cultivadas, ou a combinação de baixos rendimentos e aumento populacional irá forçar pequenos agricultores a devastar florestas virgens e cultivar. Ou será que os Países doadores deverão colocar de lado os seus subsídios ao sector no continente Africano ?

Leia aqui um pouco da experiência do Vizinho Malawi na agricultura nos últimos anos.

Que outras possibilidades existem para se impulsionar a Revolução verde em Moçambique e em África ?

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Revolucao Verde em Mocambique - Agro-Economista Firmino Mucavel lanca criticas

A Revolucao verde em Mocambique, na optica do Economista Firmino Mucavel, produz investimentos pouco significativos pois, segundo argumenta, existe confusao entre mecanizacao e tractorizacao, pois alguns decisores de politicas agrarias resumem a revolucao verde a aquisicao de tractores novos, ignoraando a pesquisa, a inovacao, a experimentacao, a tecnologia e a extensao.
o Agro-Economista Mocambicano defende ainda que o financiamento a agricultura deve ir muito alem dos investimentos em infra-estruturas e vias de acesso, mas sim deve haver investimento na tecnologia.
um outro aspecto levantado por Mucavel numa palestra orientada em Maputo, com o tema "Revolucao Verde como Opcao de Desenvolvimento Agrario: o Caso de Mocambique", e a necessidade de os jovens assumirem a dianteira no mundo dos negocios, apontando que nao se pode fazer a revolucao verde com empresarios de 61 anos de idade,

Bom, o Dr Firmino Mucavel fez uma abordagem tipica da sua forma de estar entanto que economista agrario, provavelmente os decisores de politicas agraria em Mocambique estejam a concentrar mais os seus discursos pela necessidade que vem na priorizacao de tractores para o pais, em relacao a tecnologia por exemplo, no entanto afigura-se pertinente a colocacao de alguns ingridientes ao debate sobre a revolucao verde.

por exemplo em relacao ao financiamento a revolucao verde, o debate vai muito alem da discussao entre o financiamneto ao investimento em tractores ou em tecnologias, ou ainda em vias de acesso aos mercados agricolas, mas inclui os moldes em que este financiamento acontece e a disponibilidade do mercado financeiro Mocambicano para investimentos neste sector. Provavelmente em relacao ao financiamennto a agricultura seja importante chamar a responsabilidade o investimento publico, o papel do Estado Mocambicano .

A equacao da revolucao verde em Mocambique tem varias variaveis e incognitas, e ha um aspecto que ninguem ou poucos fazem referencia: O INVESTIMENTO EM CAPITAL HUMANO COMO BASE PARA A REVOLUCAO VERDE. O discurso de aposta no ensino tecnico-profissional criou uma forte espectativa no seio da sociedade Mocambicana nos ultimos 6 anos pois este ramo da educacao constitui um dos principais pilares na luta contra a pobreza. Hoje as escolas tecnicas agrarias que seriam o motor da revolucao verde, ainda carecem de meios basicos de funcionamento em todo o Pais. Por exemplo, o Instituto agrario de Boane, que tive a oportunidade de visitar e conversar com os alunos, tem carencias elementares que colocam um ponto de interrogacao a qualquer agente do sector da agricultura. Os estudantes do final de curso nao sabem na pratica o que e um tractor nem como funciona e nem para que serve, nao sabem lidar com a terra, nunca experimentaram tecnicas basicas de agricultura, os campos do instituto, onde os estudantes poderiam ensaiar algumas tecnicas, sao autenticas matas subaproveitadas, os estudantes fazem estagios profissionais na Bananalandia, uma empresa agricola privada, em tarefas que nada ou pouco tem a ver com a sua formacao. isto e um pequeno exemplo de uma escola tecnica de agricultura que esta localizada a sensivelmente 30 Km da cidade de Maputo.

O investimento no ensino tecnico-profissional e fundamental, deve ser pratico se se pretende imprimir a revolucao verde. Os jovens sem uma boa preparacao nao vao fazer revolucao nenhuma, sem meios e sem o investimento publico e privado dificilmente podera fazer-se alguma revolucao verde. Por isso ficamos preocupados quando se coloca a carroca a frente dos bois depois de este tempo todo. nunca e tarde !

Basilio

Ps: Se o Dr Mucavel se cruzar um dia com estes escritos, ou lhe chegarem as maos, gostaria de saber um pouco mais da sua experiencia no NEPAD, as boas praticas e os projectos ou iniciativas ao nivel do continente africano que o NEPAD proporcionou ou proporciona. Tirando algumas palestras em que participei, nao tive a oportunidade de partilhar das iniciativas geradas pelo NEPAD. Aguardo que um dia o prezado Professor Mucavel nos transmita a experiencia.